"A vida na Palestina não é vida", diz-me Abu Rami, enquanto olhamos da janela para os blocos de cimento que soldados israelitas colocam na estrada para limitar o acesso à cidade de Hebron. No dia anterior, Abu Rami esperou quase duas horas no checkpoint, a apenas alguns metros de sua casa, depois de ter ido buscar a filha à escola.
"É exército, ocupação, soldados armados, ruas cortadas... não é vida", ele suspira.
Blocos de cimento bloqueiam a estrada em Hebron |
A vida na Palestina não é vida, e a vida que é vale tão pouco... Nesse mesmo dia duas adolescentes palestinianas tinham sido abatidas como se fossem cães com raiva depois de terem tentado um ataque com tesouras em Jerusalém. Uma tinha 16, a outra 14 anos. Já estavam no chão, imobilizadas, mas o polícia fez questão de disparar. A câmara de segurança capturou o desprezo pela vida humana que se tornou tão banal. Porque aqui, matar adolescentes com tesouras é normal. É necessário para conter a onda de terror, dizem as autoridades israelitas.
Desde Outubro, morreram mais de 100 palestinianos, alguns em ataques (efectivos e alegados) contra soldados israelitas e civis, outros em manifestações e confrontos com o exército. No mesmo período morreram 17 israelitas. Quase todos os atacantes eram adolescentes ou jovens, e grande parte vinha de Hebron. A cidade tem sido o principal palco de violência nos últimos meses.
"Precisamos mais do que observadores internacionais", diz-me Muafaq. Conhecemos-nos na demonstração semanal no centro da cidade, onde jovens palestinianos protestam contra a ocupação. Muafaq diz-me que organizações como a TIPH, observadores internacionais, não são suficientes para controlar a situação na cidade antiga e proteger as famílias que lá vivem.
"Precisamos mais do que observadores internacionais", diz-me Muafaq. Conhecemos-nos na demonstração semanal no centro da cidade, onde jovens palestinianos protestam contra a ocupação. Muafaq diz-me que organizações como a TIPH, observadores internacionais, não são suficientes para controlar a situação na cidade antiga e proteger as famílias que lá vivem.
A loja de um activista de direitos humanos |
Quem vive em Hebron já está habituado a que partam: os activistas de férias, os observadores internacionais, as organizações de direitos humanos, os jornalistas. Ficam alguns dias, umas semanas, no máximo alguns meses, e depois deixam a cidade. "Todos deixam Hebron, mas é muito mais perigoso para nós do que para vocês", disseram-me. Parti sem conseguir deixar de me sentir culpada, por deixar os que me receberam como família, e por ter o privilégio de poder simplesmente partir.
Deixar a mesquita de Ibrahim, no centro de Hebron |
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