sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Perder Sarajevo

"Viajar! Perder países! Ser outro constantemente..."

Fernando Pessoa faz com que pareça fácil. Mas perder países pode ser extremamente doloroso. Deixei Sarajevo no fim de Outubro como quem deixa um amante. Não sabia que se podia amar assim uma cidade, para além da nossa, a que chamamos casa.


Sarajevo foi a minha casa durante alguns meses. Senti-me logo acolhida, aconchegada pelas montanhas que rodeiam a cidade e a sua beleza. Adorava cada pequeno detalhe, cada parte da rotina que fui criando.

Adorava o cheiro do pão quente da padaria perto de minha casa. Adorava ir de bicicleta de manhã para o trabalho, pedalar junto ao rio que atravessa a cidade e beber café bósnio no meu sítio preferido, onde um gato vinha deitar-se no meu colo e os empregados já sabiam o meu nome. Adorava o nevoeiro nas montanhas e o som da chamada à oração dos minaretes que preenchem a linha de horizonte de Sarajevo, especialmente quando se misturava com o som de sinos das igrejas mais próximas.


Sa-ra-je-vo. Até a palavra tem algo de mágico. Pronuncio-a, e com ela a saudade dessa cidade que quis fazer minha e a dor de a perder. 

"Viajar assim é viagem,/ Mas faço-o sem ter de meuMais que o sonho da passagem.O resto é só terra e céu."

Terra e céu, enquanto esvazio a mochila da Bósnia e a preparo para a Palestina. Terra e céu, enquanto voo em direcção a Tel Aviv. 

"Não pertencer nem a mim!Ir em frente, ir a seguirA ausência de ter um fim/
E a ânsia de o conseguir!"

Aterrar em Tel Aviv

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