terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Os muros de Jerusalém

Jerusalém é indescritível, é uma cidade que não se explica e não se compreende.

É a mesquita da cúpula dourada, os papeis nas ranhuras do muro das lamentações e os peregrinos que percorrem a via dolorosa. É jasmim, oliveiras e buganvílias. É o som dos sinos seguido da chamada à oração vinda dos minaretes das mesquitas. É arame farpado, muros e soldados em cada esquina.

Vista do Monte das Oliveiras
Nunca vi uma cidade com a beleza de Jerusalém. Uma beleza surpreendente, mas refém de muros e cercada de arame farpado. A primeira impressão que tive ao chegar às portas da cidade antiga foi opressiva: eram demasiados muros, demasiado o peso de milhares de anos de história, demasiadas as tensões e conflitos por este pedaço de terra sagrado para três religiões diferentes.

Jerusalém, "cidade da paz", lê-se em cartazes espalhados pela cidade, numa alusão às possíveis raizes da palavra Jerusalém, yrw cidade e slm, paz. Soldados armados em cada esquina, checkpoints e residentes a passear com as suas metralhadoras estão lá para assegurar "a cidade da paz". Porque não há melhor maneira de garantir paz do que com M16 e uzis. Em Outubro, o presidente da câmara de Jerusalém aconselhou os residentes israelitas a carregarem sempre armas para "aumentar a segurança". 

Muro das Lamentações

Não sei como é ser israelita na cidade antiga de Jerusalém, mas metralhadoras em cada esquina não me fazem sentir mais segura. Em Hebron, uma cidade tensa, onde cerca de 800 colonos israelitas vivem rodeados por 30 mil palestinianos no bairro histórico, eram sempre os soldados de armas em riste e rostos cobertos que me faziam temer pela minha segurança.

A recomendação do presidente da câmara de Jerusalém foi uma resposta à onda de violência que começou em Outubro, com ataques a soldados e civis cometidos por palestinianos. Nos últimos dois meses morreram pelo menos 19 israelitas em ataques, e 117 palestinianos, dos quais cerca de 70 as autoridades israelitas disseram ser atacantes.

Cartazes cristãos
De manhã, enquanto caminhava em direcção à cidade antiga, encontrei a entrada cortada por soldados, e um rebuliço de ambulâncias e seguranças. Um ataque tinha acabado de acontecer próximo do portão da entrada. Um palestiniano tinha esfaqueado um soldado, e tinha sido alvejado e morto no local. Vi o corpo coberto por um plástico. No entanto, o que me chocou não foi estar tão perto da morte, mas a aparente normalidade da situação. 

À tarde, na mesma rua, a vida continuava como sempre. Onde o corpo jazia umas horas antes passeavam turistas, idosos e crianças, apesar do sangue na calçada não ter sido bem lavado. Porque é só mais um dia na "cidade da paz". 

Jerusalém, cidade de muros

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