segunda-feira, 13 de junho de 2016

A infância é curta demais em Basmane

Ao longo das semanas que passei a visitar famílias de refugiados sírios a viver na cidade turca de Izmir, tive que me adaptar a uma nova noção de idade. Envelhece-se mais rápido em Basmane, o bairro que concentra as famílias sírias. Aos 50 anos, dizem aos homens que são velhos de mais para trabalhar.

Crianças e adolescentes arranjam mais facilmente trabalho, estão na idade certa para serem explorados. Segundo dados da Unicef, metade dos refugiados sírios na Turquia são crianças, e 80% não vai à escola. Uma grande maioria trabalha por salários miseráveis, e carrega a responsabilidade de sustentar a família. 

Uma menina síria experimenta sapatos doados a famílias de refugiados em Izmir

Só em Janeiro deste ano é que o governo turco introduziu a possibilidade de adquirir autorizações de trabalho para os quase 3 milhões de refugiados sírios no país. Mas até agora menos de 0,1% conseguiu candidatar-se às licenças de trabalho.

"Todas as pessoas que entrevistamos estão a trabalhar ilegalmente," diz-me  Dilan Taşdemir, membro da organização Halklarin Koprusu, que tem trabalhado com refugiados desde que a Turquia se tornou num dos principais destinos os sírios que fogem da guerra. Segundo Dilan, que conduziu um estudo com mais de 100 pessoas a viver na área de Basmane, a grande maioria dos sírios ganha menos que o salário mínimo turco (cerca de 1600 liras, ou 485 euros), e 30% das crianças em idade escolar está a trabalhar.

Um brinquedo abandonado nas ruas de Basmane
Como a licença de trabalho depende de um contrato que deve ser antes assinado pelo empregador, muitos preferem ter sírios a trabalhar ilegalmente, sem ter que lhes pagar o salário mínimo. Os sírios trabalham 12 horas por dia, seis dias por semana, para ganhar entre 500 a 1000 liras (150 a 300 euros), salários que por vezes têm que sustentar famílias com 6 ou 7 membros.

Numa situação de vulnerabilidade, sem nenhuma segurança ou direitos garantidos, muitos têm que se sujeitar à exploração, e alguns chegam a não ser sequer pagos. Conheci demasiadas famílias que trabalharam durante meses em quintas no sul da Turquia, ou em fábricas e restaurantes, e que nunca chegaram a receber nada pelo trabalho. 

Enquanto estava sentada à porta da escola para crianças sírias criada pela organização Revi, um rapaz pára à minha frente e diz que gostava muito da escola, mas agora precisa de trabalhar para ajudar a família e já não pode ir. Tem 11 anos. A infância é demasiado curta em Basmane. 

Uma aula de artes na escola Revi

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