sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Infância interrompida: fotografias tiradas por crianças sírias

A vida para os refugiados sírios na Turquia é especialmente difícil para as crianças. Forçadas a deixar as suas casas, a interromper os estudos, e a adaptar-se a condições difíceis de instabilidade e vulnerabilidade, as crianças sírias têm que crescer demasiado rápido.


Crianças com menos de doze anos trabalham doze horas por dia, seis dias por semana, para ganhar um salário muito abaixo do salário mínimo na Turquia, essencial para sustentar as famílias.

“Trabalho numa máquina de costura dez horas e meia por dia, seis vezes por semana. A minha mãe era professora na Síria e eu era um aluno muito aplicado. Sinto muito falta da escola, mas agora tenho que trabalhar. O meu pai está na Alemanha, e a minha família ainda está à espera para se juntar a ele. Quando conseguirmos ir para lá espero poder continuar os meus estudos.”
-Ahmed, 13 anos


De acordo com a Unicef, mais de metade dos 2,7 milhões de refugiados sírios registados na Turquia são crianças, e só 20% está a frequentar uma escola formal. Apesar do governo turco ter concedido a crianças sírias o acesso a escolas públicas, a grande maioria não pode usufruir da educação a que tem direito devido a barreiras linguísticas, dificuldades económicas e falta de informação e de integração.

“A minha vida aqui não é boa. A língua turca é difícil e eu não consigo aprender. Somos sírios e [os turcos] tentam envergonhar-me. Querem que sinta vergonha por ser da Síria. Mas eu não tenho vergonha, nunca! Tenho orgulho de ser síria. Há tantas crianças turcas que não provocam… gritam palavras feias. Deixa-me muito zangada. Não quero ficar aqui. O meu único sonho é voltar para casa. Não quero mais nada.”
- Aisha, 10 anos


Muitas crianças não vão à escola por não falarem turco, ou porque tem dificuldades em integrar-se. Para combater este problema a Revi, um grupo de voluntários internacionais e locais, abriu três escolas para mais de 100 crianças na cidade costeira de Izmir, onde vive um grande número de refugiados sírios. A Revi conseguiu contractar cinco professoras sírios da comunidade, e dar aulas de turco e inglês, para além de desenvolver projectos de integração.


No Verão de 2016, ajudei a Revi a organizar um workshop de fotografia para crianças sírias a viver em Izmir. Demos máquinas descartáveis a várias crianças e pedimos que fotografassem o seu bairro. Os resultados foram surpreendentes: um olhar comovente sob a vida no bairro sírio de Izmir, com as suas ruínas e edifícios decrépitos, mas também com os seus mercados coloridos que vendem produtos de Alepo, um vendedor de algodão doce e até um raio de sol a iluminar um beco.



“Estava a estuda na Síria e queria continuar a ir à escola, mas por causa da guerra não pude. Estou a estudar aqui, mas não estou feliz. Não quero ver crianças sem poderem ir à escola, ou a chorar. Chega de guerra… não quero ver pessoas com armas.”
- Nadia, 10 anos


“Vi morte, sangue, violência mesmo à minha frente. Era tudo tão difícil. No início tinha medo de tudo, mas o que vi deu-me força. Tenho muita esperança na Síria. Acho que vai voltar ao que era antes da guerra. E como eu, as coisas terríveis que a Síria viu vão tornar o país mais forte.”
- Aisha, 10 anos


“O meu trabalho é a costura. A maioria dos sírios que estão a viver na Turquia trabalha nesta área. Passamos a maior parte do tempo a trabalhar. Não sinto satisfação, mas tenho que o fazer. Estou sozinho aqui, a minha família ainda está na Síria, falamos uma vez por mês. Já estou aqui há nove meses, tenho tantas saudades…”
- Mahmoud, 15 anos



A Revi está a receber donativos que ajudem a apoiar as suas escolas e o programa “Work to School”

(Todas as fotografias foram tiradas por crianças sírias em Izmir, na Turquia)

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