sábado, 30 de janeiro de 2016

Ramallah e o cacto coberto de neve

À primeira vista Ramallah pode parecer uma cidade desinteressante. A capital de facto dos territórios palestinianos não tem a beleza nem a importância histórica e simbólica Jerusalém, ou de cidades como Nazaré e Belém, mas é o centro da vida cultural, política e económica palestinianas. 

Pode não ter cúpulas douradas, edifícios com séculos de história ou o charme decadente das velhas medinas, mas é uma cidade que fervilha de energia e movimento. Os cafés e bares estão sempre cheios, a cheirar a café árabe e ao aroma frutado dos cachimbos de água. Há sessões de cinema, lançamentos de livros e leituras de poesia. 

Em Ramallah, as ruas são uma constante celebração da vida, com o som das buzinas dos carros e dos pregões dos vendedores de azeite e tâmaras, misturado com o som de sinos das igrejas mais próximas e a chamada à oração das mesquitas, a formar uma maravilhosa cacofonia. 

Cheguei em pleno Inverno, e descobri uma cidade coberta por um manto de neve. Nunca imaginei que iria ver nevar pela primeira vez numa cidade palestiniana, a apenas alguns quilómetros do deserto, no meio do Médio Oriente. 

Mas Ramallah é uma constante surpresa, cheia de encontros inesperados e descobertas. É a cidade onde posso contemplar, maravilhada, a possibilidade de um cacto coberto de neve. 

(E questionar-me: se cactos vivem com flocos de neve, porque é que palestinianos não podem viver com israelitas?)

Esperança na coexistência: cactos vivem com flocos de neve